terça-feira, 5 de abril de 2011

Conversa com o xamã

- O que devo fazer agora?
Ele não me respondeu. Pelo menos não com seus lábios. De alguma forma eu pude ler o que se passava na sua mente, e naquele vale, no meio da mata, naquele silêncio, era bem mais fácil me concentrar em sua mente.
Eu já o conheço, de longas datas. Ele me guia, me orienta, me esclarece.Quando venço, ele não perde tempo em muitas congratulações. Apenas um sorriso, e um aceno com a cabeça, como se estivesse a me dizer: "Bom trabalho, menina". E sempre que eu estou em perigo, ele aparece para chamar minha atenção para algo para o qual eu não havia me atentado antes.
E dessa vez, eu mesma decidi ir até sua cabana. Após presenciar o homicídio de um casal, senti que precisava de proteção. Pareciam duas realidades totalmente distintas, mas fazia algum sentido estar ali. Enquanto estivesse ao seu lado, nada poderia me atingir.
Ele me estendeu um colar de contas verdes e me disse que eu deveria mantê-lo no pescoço pelo tempo que fosse necessário.
- E por quanto tempo?
"O tempo que for necessário".
- Mas por que? Por que eu tinha que estar naquele lugar justamente naquela hora? Por que precisava presenciar aquela brutalidade?
Ele não me respondeu a estes "porquês", mas me deu informações mais importantes: "Por um longo tempo, você estará em perigo. Irão te rondar, esperar o momento certo de atacar. São pacientes...mas você é mais. E pode vencê-los. Pode ficar aqui esta noite se quiser, mas não mais que isso. Quando for embora, quero que tome posse de sua força de espírito. Não tenha medo, este totem irá te ajudar e eu estarei por perto. Seja simples, mas seja astuta."
Naquela noite eu dormi o sono dos puros, porque nunca havia me sentido tão em paz. Tinha medo de voltar pra casa, de ser encontrada. Mas quando me encontrassem, eu estaria preparada, eu sabia que estaria.

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